Julgue pela capa e perca uma grande história

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Desde a nossa infância, fomos doutrinados a olhar para as pessoas com uma visão errada e, por este motivo, perdemos a oportunidade de nos relacionar com pessoas que poderiam acrescentar muito em nossa vida. Tem uma fala que ouvi de alguém, ou li em algum livro, que diz assim: quando nos relacionamos com outra pessoa e precisamos nos separar e ficar distantes, levamos conosco algumas coisas boas que aprendemos com ela. Mas, ao mesmo tempo, deixamos algo de bom que existe em nós, que ficará marcado pelo período desta convivência.

               Uma das grandes dificuldades dos seres humanos, prende-se ao fato de querer conhecer primeiro a pessoa, isto é, ter uma proximidade maior, para depois analisar e tirar as próprias conclusões a respeito. Infelizmente, existe uma mania de vê-las com olhares ruins, mesmo antes de manter qualquer tipo de contato, não importando buscar saber quem é, o que ela faz na vida, ou com quem anda e se precisa de alguma coisa.

              Muitas vezes ouvimos alguém dizer: “Olha, eu não gostava muito de você, mas eu estava errado. Agora que eu te conheci, discordo totalmente do que pensei”. Isso acontece com frequência no cotidiano, geralmente porque colegas nos quais confiamos nos passaram esta ou aquela informação. E aí reside um problema maior: mesmo sem saber de quem se trata e não buscando conhecê-lo melhor, pessoas acabam fazendo julgamentos pelo que ouviram dizer e pela aparência.

              Um ditado popular afirma que “a primeira impressão é a que fica”. Neste caso, se não houver da parte de quem ouviu o comentário leviano, o interesse de procurar saber ou se informar melhor, confirmar se é verdade o que disseram, o ditado se justificará. Ou seja, quem foi comentado ficará refém dessa primeira impressão que passaram. Daí, terá sido feito um julgamento pautado no que se ouviu, e não na expressão de um caráter, um pré-julgamento pela aparência.

Então, lhe faço a seguinte pergunta: o que a sua aparência está dizendo para as pessoas agora? Como ela promove sua comunicação? E, diante disso, como as pessoas te veem, como alguém de sucesso e leveza ou como uma pessoa fracassada e pesada? Cuidado! Preciso dizer que sua aparência é o seu maior meio de comunicação.

Digo isso porque ela pode ser moldada e trabalhada gradativamente. A imagem que você quer passar para as outras pessoas, precisa ser pautada por você. Portanto, se você quer ser bem-sucedido em tudo o que faz, procure dar maior prioridade a sua imagem social e profissional. Existem três pilares importantíssimos a serem observados sobre a imagem: (1) o primeiro está voltado para a aparência, aquilo que os nossos olhares podem ver; (2) o segundo está relacionado ao comportamento; (3) e, o terceiro, está diretamente ligado a comunicação, que pode ser verbal e não verbal.

Sobre a aparência. Tudo começa na aparência, porque é a primeira coisa que notamos em qualquer lugar que chegarmos. Ela alcança tanto coisas, pessoas como o ambiente ao nosso redor. Imediatamente sempre formamos uma primeira impressão sobre tudo o que avistamos, surgindo em nós uma sensação, que pode ser positiva ou não. 

Sobre a comunicação. A princípio, é por meio da comunicação que conseguimos conhecer mais as pessoas. Ela pode ocorrer de forma verbal ou não verbal. (1) A verbal, como o próprio significado da palavra indica, volta-se para tudo que se é verbalizado ou falado: o tipo de palavras usadas, a tonalidade de voz, se ocorre o emprego da língua portuguesa de forma correta ou não, entre outras. Atenção! O tiro não pode sair pela culatra. A pessoa tem que primar por uma apresentação de excelência, tendo critério para falar, escolhendo bem suas palavras, pois não pode deixar a desejar. Se preciso for, prepare-se antes. Procure ler muitas literaturas. Esta é uma ótima maneira de melhorar o português falado e também escrito. (2) A comunicação não verbal pode ser entendida como tudo aquilo que é comunicado sem que precisemos falar. Estamos o tempo todo nos comunicando. E dependendo do ambiente em que nos encontramos inseridos e o grau de formalidade exigido, precisamos nos policiar o tempo todo.

O fato de nos trajarmos adequadamente, principalmente combinando com o ambiente social, reforça nossa boa aparência (o aspecto visual). Quando nos colocamos a discursar para pessoas, precisamos fazer o uso correto das palavras, pois esta é a comunicação em sua forma verbal. Para muitos, é uma das piores a ter que enfrentar, mas se não tiver outro jeito, treine em casa e decore algumas palavras-chave. Evite fazer caras e bocas. Lembre-se de que ninguém nasce sabendo. Procure esquecer a voz de seus pais, dizendo “tira a mão da boca”, “que tosse é essa”, “tá se coçando por que?” Agora é hora de controlar seus impulsos, com boa postura, atitude, segurança e fazer você parecer uma pessoa merecedora de onde quer estar. 

Segundo escreveu o professor Reinaldo Passadori1: “O nosso corpo é um poderoso instrumento de comunicação que culmina em uma simples, objetiva e muito conhecida frase: ‘O corpo fala’. Desde um simples franzir de sobrancelhas, um dedo em riste, um movimento de cabeça, querendo dizer sim ou não, ou uma gesticulação exagerada em um discurso inflamado, pode revelar todo o seu ser em segundos, potencializando positiva ou negativamente a sua imagem”.

Sobre o comportamento humano. Ele não é menos importante que os outros dois pilares. Porque, vamos combinar uma coisa, o comportamento das pessoas tem deixado a desejar. E acredite ou não, muitos são isolados e ignorados por outros devido a seu mal comportamento. Quando falo de comportamento, não me refiro apenas a bater na porta antes de entrar, saber segurar uma taça de vinho ou champanhe em algum evento social. Vai muito além disso.

Tem a ver também com gentileza, cordialidade, compreensão e discrição. Coisas tão simples que estão sendo esquecidas e surpreendem quando encontramos por aí. Isso sempre é bem-vindo, e sempre abre portas. A aparência que temos e que desejamos passar, reflete na visão que as demais pessoas constroem sobre do nosso caráter. Está intimamente conectada à forma em que se desenvolvem as nossas relações interpessoais.

               A imagem de uma pessoa é geralmente associada a um grande número de representações que está diretamente ligada a uma série de valores normativos, que são adotados pelos observadores. Dessa forma, o sujeito, ao observar a aparência de alguém, tira suas conclusões com base em inúmeras variáveis, que são medidas em grau de valor e significado, de acordo com os valores que esse carrega. Essa é uma das ferramentas de comunicação social que possuímos e a utilizamos sem nos darmos conta, mas que é tão influente e importante na vida social, que é parte do processo de construção da identidade do sujeito.

Por fim, deixo bem claro para o leitor, o quanto é importante pensar acerca de sua aparência. Ela pode significar para os que estão a nos observar, tanto impressões positivas como negativas. A ideia de nos comunicarmos de forma tão intensa, mesmo quando não pronunciamos sequer uma palavra, pode ser intimidante, mesmo porquê no final das contas ela realmente é. Os problemas relacionados ao preconceito e a discriminação, estão todos ligados a esse fenômeno. Sendo assim, é importante compreendermos o seu funcionamento e entender que não se pode mais “viver apenas de aparências”. Pense e reflita sobre isso.

Saiba que a verdadeira “capa” é a que você tem por dentro, é a sua essência, e que te fará viver com quem quer que for uma grande história….


1  PASSADORI. Professor e CEO do Instituto Passadori. Especialista em Desenvolvimento Humano e Comunicação Verbal.