O tráfico de drogas alicia, aprisiona e causa mortes!

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Não é nenhuma novidade, de que o submundo das drogas tem feito muitos jovens interromperem seus planos para o futuro, trazendo muita dor e sofrimento aos seus pais e familiares. Várias são as pesquisas realizadas por instituições governamentais e não governamentais (ONG’S), que apresentam como resultado o número elevado de óbitos de pessoas na faixa etária entre 14 e 28 anos. E até pouco tempo, entre estas mortes, predominava o número de jovens do sexo masculino, mas, com o passar dos anos, isso tem mudado um pouco.

A rede criminosa do tráfico de entorpecentes, tem “arrebanhado” muitas crianças e adolescentes para atuar neste tipo de atividade ilícita e, também, fazendo surgir a atuação do número de meninas muito jovens. Para aqueles que não sabem, eles possuem uma estrutura organizacional parecida com a de uma empresa, com a possibilidade de ascensão hierárquica entre seus “empregados”. Segundo disse André Severo, diretor da fundação de atendimento socioeducativo (Fase), “os adolescentes que são flagrados com drogas, não ficam detidos por muito tempo, mas acabam sendo internados pela prática de crimes mais graves, como roubos a mão armada e homicídios. Ele ainda acrescentou, que quando o jovem já está dentro desta rede criminosa, ele começa a querer status, tendo metas a cumprir e deseja acender (subir de cargo/posto/função) dentro do grupo criminoso”. Por isso, achamos interessante apresentar como ela funciona no Brasil e, provavelmente, em outros países:

 

.  Gerente: pessoa de confiança do traficante e responsável pela administração das bocas de fumo e dos pontos de drogas.

. Soldado: responsáveis pela segurança pessoal do traficante e dos pontos de venda e comercialização de drogas. São executores fiéis das ordens do seu “chefe”, inclusive para matar seus rivais ou aqueles que estão lhe devendo.

.  Vapor: são encarregadas do preparo e embalagem das substâncias psicoativas (drogas).

. Olheiro: indivíduos posicionados em pontos estratégicos da comunidade (bairro/morro), com rádios comunicadores (ou foguetes) para avisos e comunicação entre eles, sempre bem armados para o enfrentamento de gangues rivais (ou de Policiais).

.  Mula: eles escolhem pessoas que não tem passagem pela polícia para fazerem o transporte de quantidades de drogas, sem chamar a atenção dos agentes de segurança pública (nas estradas, rodoviárias, aeroportos etc.). E neste cargo ou função, costumam usar pessoas jovens e do sexo feminino.

.  Aviãozinho: encarregados de fazerem várias “viagens” com pequenas quantidades de drogas, entregando-as aos clientes e usuários. Com isso, se forem flagrados por policiais, não trarão grandes prejuízos para o traficante[1].

 

Nestas e outras funções que existem dentro desta estrutura e rede criminosa, eles costumam “assediar” crianças e adolescentes, tanto do sexo masculino e feminino, para fazerem parte do grupo. Uma das vantagens de empregá-las, volta-se para a questão de custo e benefício, pois são muitos e fazem parte de uma mão de obra barata. Só para se ter a ideia, em algumas comunidades e pontos de drogas, eles recebem $ 30,00 (trinta reais) por dia e/ou noite. Foi como disse Alexandre Garcia, numa entrevista dada à CNN Brasil, sobre esta ação policial na Comunidade do Jacarezinho, no Estado do Rio de Janeiro: “As leis brasileiras não entram nestas comunidades, pois são verdadeiros santuários do crime e territórios dominados pelos traficantes. E com a medida liminar proferida pelo Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, proibindo as operações das Polícias Militar e Civil nestes locais, deu tempo para eles construírem barricadas, esconderijos e fortalezas para impedir a entrada da força policial na comunidade. Foi de uma destas construções (“casa mata”) que saiu o disparo da arma de fogo, que atingiu a cabeça do policial civil e pai de família, André, que veio a óbito, logo no início da operação”.

Garcia ainda acrescentou que: “esses traficantes, além de escravizarem as pessoas que residem neste local, estavam usando crianças como “aviãozinho” para a entrega das drogas. Eu acho muito estranho a população criticar um governador que fica do lado da Polícia. (…). Eu não padeço da bandidolatria, pois num confronto armado, e foi um confronto armado, pois todos os mortos estavam fortemente armados com fuzis automáticos e submetralhadoras. Neste país, as pessoas estão invertendo as coisas, apoiam-se os bandidos, a corrupção (e os corruptos) e os traficantes (e seus comandados), mas são contrárias as leis, a polícia e a justiça”. A foto abaixo, mostra de forma bem clara, as armas ultramodernas e o grande potencial de seu alcance e precisão, que estavam de posse das pessoas ditas como sendo “suspeitas” pela imprensa global (Rede Globo de Televisão), que vieram a óbito. As mesmas pessoas que foram filmadas pelo drone, durante todo o transcorrer da operação policial que foi realizada naquela comunidade, pertencente ao Estado do Rio de Janeiro.

 

Armas, drogas e granadas apreendidas com os “suspeitos” moradores do Jacarezinho (Rio de Janeiro).

 

Muitos são os motivos que podem levar uma pessoa a se envolver com as drogas, como também, fazer parte desta rede criminosa e cruel. Principalmente, se forem pessoas que estão passando pela fase de transição entre a pré-adolescência para a adolescência. Fase esta, onde os hormônios estão em efervescência e elas se concentram pela busca de autoafirmação. Somam-se a isso, que nas comunidades e bairros periféricos de muitas cidades do território brasileiro, existem muitas mazelas sociais. Em outras palavras, existe uma grande deficiência acerca do saneamento básico, de uma rede de ensino de qualidade, de uma boa assistência medica para atender a população local, a falta de segurança estatal, o desemprego e poucas expectativas da melhora de vida, entre outros fatores.

Em decorrência desta “ausência estatal”, os traficantes acabam ocupando esta lacuna, oferecendo algumas melhorias aos seus moradores, mas acabam cobrando um “pedágio” e a total obediência as suas ordens. Qualquer morador que violar as normas ditadas por eles, podem vir a sofrer sanções pesadas, inclusive pagando com a própria morte. E os soldados do tráfico, as executam sem dó e piedade.

Neste sentido, os traficantes acabam oferecendo às crianças e aos adolescentes, aquilo que eles tanto almejam, mas que os seus pais não podem dar. Muitos deles acabam se encantando por veem naturalmente pessoas ostentando armas de grosso calibre, belos carros e motocicletas, dinheiro, roupas de marca, a realização de baladas regadas de drogas. Desta forma, todo este ambiente e a grande movimentação dentro da comunidade, acaba sendo atrativo para muitas crianças e adolescentes, por isso tem aumentado o ingresso de pessoas nesta faixa etária, no submundo das drogas e da criminalidade, inclusive belas e jovens meninas.

O cronista do Cidade Aberta, Pedro Maia (in memoriam), do jornal A Tribuna/ES, escreveu um artigo intitulado: “Uma história de amor contra o uso de drogas”. Este texto foi escrito no ano de 2008, onde foi apresentado o resultado do Relatório Mundial sobre drogas, mostrando que no mundo, cerca de 200 milhões de pessoas entre 15 e 64 anos de idade, eram usuárias de drogas, lícitas ou ilícitas. Noutra matéria jornalística, divulgada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), veio a confirmar os dados deste relatório do ano de 2008, acrescentando que entre 10% a 15% (dez a quinze por cento) de toda a população empregada no Brasil, possuíam algum tipo de dependência química. Outras tantas pesquisas realizadas sobre o uso e abuso de drogas no território brasileiro, apontavam que as vítimas alcançadas por esse grande mal, são, em sua grande maioria, jovens e adolescentes. A Organização das Nações Unidas (ONU), trouxe como enfoque principal num de seus relatórios anuais, que a qualquer tempo, cerca de 2,5 (dois virgula cinco) milhões de pessoas no mundo serão fisgadas pela rede criminosa do tráfico de drogas. Vale registrar, que aliada a esta atividade ilegal sobre as substâncias psicotrópicas, seja como usuário, dependente ou traficante, adiciona-se outro braço forte da criminalidade no Brasil: o tráfico de seres humanos.

 

Meninas adolescentes ostentando armas de fogo, num dos morros da grande Vitória/ES.

 

Acerca deste tema, no dia 2 de maio de 2021 (domingo), o programa Fantástico, apresentou uma matéria sobre este assunto, mostrando a pessoa de um agenciador que mora num bairro nobre de São Paulo, e que atua juntamente com duas comparsas brasileiras, que residem atualmente na Europa. Eles, segundo a matéria, fazem todo o esquema para enviar jovens meninas para o exterior, inclusive menores de 18 anos de idade e para vários países. Esta rede criminosa tem como preferência meninas adolescentes, com a idade variando entre 15 e 28 anos, principalmente para empregá-las no turismo sexual. As duas atividades ilícitas (tráfico de drogas e seres humanos), somadas com o tráfico de armas, de animais e de órgãos humanos, são as atividades ilegais de maior lucratividade para os seus agenciadores, movimentando bilhões de dólares por ano. Segundo disse Olavo de Carvalho, que foi jornalista e astrólogo: “o regime comunista chinês, mata por ano 90.000 presidiários, para vender os seus órgãos”.

De acordo com os dados estatísticos divulgados pela Policia Militar do Estado de São Paulo (PMESP), cerca de 80% (oitenta por cento) dos crimes urbanos, têm alguma ligação com o uso, abuso e o tráfico de drogas. O que tem nos deixado mais preocupado, como já descrevemos anteriormente, prende-se ao fato, de que a cada ano que passa, a faixa etária de pessoas usuárias e dependentes de drogas, vem diminuindo. No Rio Grande do Sul e, com certeza, em outros estados brasileiros, há relatos de crianças entre 7 e 9 anos de idade, totalmente dependentes do crack e de outras drogas. E entre estas crianças e adolescentes, tem aumentado o número de mulheres. Elas, as meninas, veem na pessoa do traficante, uma oportunidade de saírem daquela “vida miserável”. Assim, muitas delas acabam tendo algum tipo de relacionamento afetivo ou amoroso com traficantes.

E simultaneamente a isso, tem aumentado também, de forma significativa o número de óbitos de jovens meninas adolescentes. E muitas destas mortes, pelo motivo de tentar acabar com o relacionamento amoroso, mas não aceito pelo traficante. Outras jovens meninas, estão sendo flagradas com o porte de drogas em várias regiões do Brasil. Elas estão sendo usadas como “mulas” do grupo criminoso, com a missão de fazer o transporte de maior quantidade de drogas para outras localidades. E isso ocorre, a nosso ver, devido a dois fatores principais: elas não possuírem passagem pela polícia e, o segundo, por não despertarem muita suspeita dos agentes de segurança pública (isto tem mudado). Assim, além do número crescente de óbitos de meninas adolescentes, tornou-se comum a apreensão de quantidades de drogas ilícitas em posse de jovens mulheres e, consequentemente, com as suas prisões. Veremos a seguir, matérias jornalísticas com este tipo de conduta ilícita:

 

Garotas são presas por tráfico de drogas em Criciúma: Duas jovens de 19 anos foram presas na manhã desta quarta-feira pela Polícia Civil, no Sul de Santa Catarina. As garotas foram detidas no bairro Paraíso, em Criciúma. Na casa delas, os agentes encontraram três torrões de crack? que, segundo a polícia, poderia gerar cerca de 420 pedras da droga? e uma balança de precisão digital. As jovens afirmaram que estavam guardando a droga e a balança para outra traficante, ex-vizinha delas, que já foi identificada. As duas devem responder por tráfico de drogas e associação para o tráfico.

Garotas presas com meio quilo de crack em João Monlevade: Traficante de João Monlevade usa meninas para transportar drogas para Itabira. As garotas de 17 e 19 anos, foram presas com 518 pedras de crack que seriam entregues a dois moradores do aglomerado do Marajó. O traficante, identificado como “Denilson” aliciou as duas garotas, chamando-as para dar um passeio em Itabira (MG), quando percebeu a presença da polícia conseguiu fugir correndo para dentro de um matagal.

Policiais do 26º Batalhão de Polícia Militar de Mogi Guaçu, prendem 3 moças por tráfico de drogas: As estudantes M. L. V., 21 anos, I. R. O. 20 anos, e D. M. M., 23 anos. Todas moradoras em Itapira (SP), estavam entre as passageiras de um ônibus que se dirigia de Itapira para uma Festa Rave em Itu. Elas estavam transportando em seus órgãos genitais, porções de cocaína e comprimidos de ecstasy, embalados em preservativos (camisinhas). Elas foram revistadas por policiais femininas e foram encontrados pelo menos 12 compridos, provavelmente de ecstasy e 13 bolsinhas de cocaína. Um terceiro pacote contendo drogas em seu interior foi encontrado com uma das acusadas, mas não foi aberto no local. M.L.V., I.R.O. e D.M.M. foram apresentadas ao Plantão da Polícia Civil, onde foram autuadas por tráfico e encaminhadas à Cadeia Feminina de Santo Antônio de Posse (SP).

Modelo presa por tráfico posa ao lado da droga em delegacia de Amambai: Uma modelo de 19 anos, residente em Vitória (ES), foi presa em Amambai na manhã dessa sexta-feira (30) por uma equipe do Departamento de Operações de Fronteira (DOF) transportando maconha e haxixe na bagagem. Segundo os policiais, Elisângela foi abordada enquanto aguardava um ônibus interestadual. Na vistoria de sua bagagem, os agentes encontraram 27 tabletes de maconha e 795 gramas de haxixe. De acordo com a polícia, Elisângela afirmou ter participado de desfiles de moda na região do Espírito Santo, por possuir cadastro numa renomada agência de modelos do Rio de Janeiro. Ela teria dito também que receberia a quantia de R$ 1.500 para levar o entorpecente de Coronel Sapucaia, na fronteira com o Paraguai, até São Paulo. (…). Enquanto era feito o flagrante, o jornal “A Gazeta News” que estava acompanhando o registro da ocorrência, fez uma foto da modelo que posou ao lado da droga apreendida: “Mesmo presa por tráfico, ela disse que não poderia posar de qualquer jeito para as fotos e fez pose para o registro do flagrante”.

Estima-se que o envolvimento destas jovens meninas com o tráfico de drogas, esteja relacionado principalmente a sua condição socioeconômica, tendo em vista que muitas delas pertencem a uma classe menos favorecida da sociedade. Aliado a este fator, moram na periferia ou em locais com poucas probabilidades de mudanças e melhorias. Talvez, por isso, não vendo grandes perspectivas de melhora para o seu futuro, principalmente na sua condição familiar, estudantil e profissional, acabam se envolvendo com pessoas que tem algum tipo de envolvimento com a rede criminosa do tráfico de drogas. Quer queira, quer não, a convivência diária e por muitos anos neste ambiente social, pode acabar influenciando ou  trazendo certo encantamento para estas jovens meninas (e meninos), mas quando algumas delas tentam sair deste relacionamento, acabam sofrendo algum tipo de represália por parte do grupo criminoso e, ás vezes, são mortas pelos “soldados” do tráfico, a mando do traficante.

Infelizmente, esta tem sido uma das alternativas encontradas por belas e “pobres” meninas, na esperança de mudar a sua vida, e, quem sabe, conseguir respeito, status social, dignidade, frequentar lugares badalados, usar roupas de marcas e conseguir dinheiro de forma mais “fácil”. Não são poucos os casos, em que ocorrendo a prisão do traficante, são as suas mulheres que acabam assumindo o comando das atividades ilícitas que eram administradas por ele. Quando isso não acontece, elas passam a ser o “elo” de ligação entre ele (que está preso) com os seus comandados. A página policial dos jornais capixabas tem divulgado matérias constantes, trazendo como resultado a apreensão de drogas em posse de meninas. Outras vezes, matérias com mortes trágicas de meninas adolescentes. Por volta do ano de 2012, duas meninas foram encontradas mortas no município de Vila Velha/ES: Uma de 14 anos, jogada no meio da vegetação do morro do moreno, local turístico e muito frequentado por esportistas que fazem rapel ou saltam de asa delta. A outra vítima, tinha 25 anos e foi encontrada as margens de uma estrada que dá acesso ao município vizinho, Cariacica/ES.

Outras duas ocorrências envolvendo a morte de meninas, foram realizadas em municípios distintos. Uma num bairro de Vila Velha, que foi morta no momento em que conversava com uma amiga em frente do portão de sua casa. Foram feitos vários disparos de arma de fogo. A outra ocorreu no município da Serra/ES: a menina tinha acabado de sair da escola e estava a caminho de sua casa, sendo morta por disparos de arma de fogo. Tanto num caso como no outro, a Delegacia de Homicídios iniciou as investigações para identificação dos autores e a motivação dos crimes. Entretanto, não se descartou a hipótese, de que elas poderiam ter envolvimento com usuários de drogas, ou, ainda, algum tipo de relacionamento afetivo ou amoroso com traficantes.

Foi feita uma pesquisa no Estado de São Paulo, não faz muito tempo, em que o público alvo era de pessoas que tinham filhos pequenos ou pré-adolescentes. A pergunta feita aos entrevistados, era: qual a sua maior preocupação em relação ao futuro de seus filhos? Disparadamente, as respostas se concentraram em dizer, de que tinham medo de que eles pudessem vir a se envolver com o uso abusivo de drogas e com o tráfico. Já se passaram-se alguns anos, mas quero acreditar, caso fizessem esta mesma pergunta hoje, as respostas não seriam diferentes.

Para concluirmos este artigo, sem a pretensão de esgotar o assunto, o faremos com um testemunho pessoal: Trabalhei durante doze anos, ministrando aulas e palestras preventivas sobre o uso e abuso de drogas psicotrópicas[2], para crianças e pré-adolescentes (de 9 aos 16 anos) das redes municipais e estaduais de ensino, apresentando-lhes conceitos e os variados tipos de substâncias químicas, juntamente com informações e dados estatísticos reais, sobre as consequências nocivas que o uso abusivo ou o envolvimento com usuários, dependentes e, principalmente, com os traficantes, poderia trazer-lhes. Dizia-lhes que este caminho era nefasto e que para as drogas não existiam barreias, pois penetravam em todo o ambiente social e existiam em toda parte do mundo.

Quando estava próximo de ingressar na reserva remunerada (aposentadoria por ter completado 30 anos de serviço na PMES), fui agraciado por Deus, ao ser convidado para trabalhar com dependentes químicos em caráter de internação. Foi neste ambiente clinico e hospitalar, convivendo diariamente com pessoas de todas as classes sociais, com idades diferenciadas e sexos distintos que, em sua maioria, tiveram contato muito cedo com as drogas (lícitas ou ilícitas), seja dentro de sua casa, nas ruas da comunidade em que residiam ou, ainda, nos ambientes e locais frequentados por seus pais ou responsáveis. E com o passar dos anos, continuando a morar nestes locais, muitas delas foram aliciadas ou ameaçadas a fazerem parte deste grupo de criminosos.

Certa vez, um dependente químico, disse assim: “A pessoa que entra para o mundo das drogas (de uso permitido ou proibido por lei), mais cedo ou mais tarde, vai acabar se prostituindo”. E este termo dito por ele, vai além de uma prostituição corporal (ter relações sexuais com alguém), pois como disse André Severo, diretor da Fase: “O tráfico de drogas é uma porta aberta, para o cometimento de outros tipos de crimes”. Por isso, penso ser inapropriado, para não usar outras palavras, certas pessoas se aproveitarem duma situação “indesejável” (com o resultado de mortes), num momento de dor e grande comoção social, familiar e profissional, para se autopromoverem (os especialistas da segurança pública etc.).

Ainda mais, se eles não têm conhecimento in loco de como é o cotidiano das pessoas que residem naquela localidade ou nas demais comunidades da periferia. E o pior, sem sequer saber como é estar “sob o fogo cruzado”, situação recorrente pelo confronto entre grupos rivais de traficantes, querendo tomar o território, para aumentar o seu comercio ilegal de venda e distribuição de drogas. Portanto, meus amigos, é muito fácil estar diante de uma emissora de televisão, com grande visibilidade e amplitude de audiência nacional, dando-lhes “cartas abertas” para lançarem suas pedras e fazerem seus pré-julgamentos acerca de uma ação policial.

Vale lembrar, que houve o pedido de socorro de moradores do próprio complexo do Jacarezinho,  quando foi feito um planejamento pela força de segurança estatal, com adoção de medidas estratégicas, para tentar salvar os filhos pequenos e pré-adolescentes que estavam sendo aliciados e seduzidos para trabalhar nesta rede criminosa do tráfico de drogas local. Esse grupo, como acontece normalmente em outros lugares, estava impondo o terror entre os moradores desta comunidade, os ameaçando, determinando toque de recolher por qualquer motivo, o fechamento do comercio, castigos e até mortes horrendas, para aqueles que desobedecessem as suas ordens ou estivessem em dívida com chefe do tráfico.

Quem mora num lugar como este,  vive o tempo todo preocupado, pois sabe que está sendo monitorado vinte e quatro horas por dia (pela rede do tráfico), tendo que tomar cuidado com quem conversa e sobre o que fala e, de vez em quando, podem ser surpreendidos com bandidos armados invadindo a sua residência, ora para se esconder da polícia ou para fugir do confronto entre soldados de outra facção criminosa. Com isso, a sua vida e de toda a sua família corre perigo. Por isso, temos que ter cuidado quando formos nos posicionar sobre ações e ocorrências policiais como esta, sem saber a origem e o motivo que os levaram a executar este tipo de operação militar.

Uma coisa é o que estudamos nas escolas, faculdades e universidades, pois estão pautadas em conteúdos meramente teóricos, embora possa haver aulas práticas com a suposição de fatos reais (nas academias militares e de polícia). No entanto, quanto nos deparamos com uma situação real, a coisa é totalmente diferente. Imagine-se agora, você se deparando com um confronto armado (já vivi isso)! Provavelmente, vai bater um medo de morrer, o coração vai disparar e a tensão irá aumentar (ou entrar em pânico). E de repente, você começa a ouvir o barulho ensurdecedor dos disparos das armas de fogo, bem próximo a você! Por certo, pode bater um desespero total.

Por isso, repito: falar sobre a ação policial com a intenção maldosa e proposital de apenas criticá-la, vindo a ignorar a filmagem mostrando os integrantes da facção criminosa muito bem armados (foto deste artigo), colocando-os como meros “suspeitos”; fala sério! Nos perdoem amigos e leitores, mas a coisa está muito pior do que podemos imaginar. Não se esqueçam: o ontem já passou, não podemos fazer ou mudar mais nada. Não sabemos o que nos ocorrerá no dia de amanhã. No entanto, quanto ao hoje e agora, podemos fazer alguma coisa, mesmo que sejam pequenas, mas com certeza, trarão grandes resultados para as nossas famílias, para as comunidades e para toda a nação brasileira.

 

[1] Da Silva. Eduardo Veronese. Drogas: Conhecendo suas Origens, Legislação e seu Poder … São Paulo: Biblioteca24horas, 2012.

 

[2] Psicotrópicas. São medicamentos ou um grupo de substâncias químicas (psicofármacos ou fármacos psicoativos), que atuam sobre o sistema nervoso central, afetando os processos mentais e alterando a percepção, as emoções e/ou os comportamentos de quem as consome.